segunda-feira, novembro 18, 2019

Conversas com os Putos e com os Professores Deles por Ricardo António Alves, no Jornal i

Conversas com os Putos e com os Professores Deles 
por Ricardo António Alves, no Jornal i


 

Um cínico diria que o magistério seria uma profissão extraordinária, não fora a existência dos alunos. Discorda-se do cínico: o problema não está nos discentes, mas na circunstância de alguns trazerem como bónus alguns pais muito pouco recomendáveis à saúde.
Também há os simulacros de professores, cuja verdadeira missão é a de ganhar o ordenado enquanto sonham com uma reforma por invalidez. No princípio de tudo, porém, estão burocratas do ministério, entretidos com as suas carreiras e progressões nas ditas, trabalhando para as estatísticas que lhes são impostas pelos políticos de turno. Destes, uns são comissários do partido e, outros, tipos bem-intencionados, com ideias completamente diferentes dos antecessores no cargo, que as porão em prática até chegar quem lhes suceda. Por isso, os estudantes costumam ser as primeiras vítimas deste carnaval, seguindo-se os bons professores e os pais conscientes, espécie ameaçada.
Feito o exórdio, comece-se por dizer que o professor Álvaro é um baril e, houvesse necessidade de filho nosso precisar de explicações de geometria descritiva, já saberíamos a que porta bater. Mas o professor Álvaro é também autor de BD e cartunista (além de arquiteto de formação) e teve a boa ideia de se inspirar no seu ganha-pão para aplicar o talento que lhe assiste na recriação da sua circunstância profissional – embora tal esteja longe de ser o exclusivo da matéria-prima a que recorre para o trabalho bedéfilo.
Conversas com Putos e com os Professores Deles é o terceiro livro desta série. Deixamos os docentes em paz – os muito bons dificilmente são parodiáveis, os maus são paródia triste – e vamos à maralha de 15, 16, 17 anos e às suas lindezas: do acne, terror das miúdas, à javardolice flatulenta dos rapazes; dos futebóis aos jogos e consolas (ou as gajas); da seca da matéria e da cabulice – as cenas com os alunos passam-se normalmente em contexto de explicação – a temas mais sérios de política e sociedade, sempre com o enviesamento da autossuficiência das opiniões fortes e supostamente definitivas, pois os putos é que sabem...
Álvaro (Parede, 1970) é particularmente feliz na captação das expressões que resultam de diálogos que atingem o mirabolante (por vezes nem se trata de diálogo mas de resmungos, quando não grunhidos): do surpreendido ao irritado, do facecioso ao conformado, do enfadado ao malicioso. Não se pense, porém, que o autor comete a feia ação de fazer nome e fortuna (pelo menos crítica) à custa daqueles infelizes. Não, ali há empatia e pundonor profissional, ambos especialmente necessários quando aos professores de hoje (aos bons e até aos maus) é cometida pela sociedade não apenas a importante função de ensinar, mas também, quantas vezes, a ingrata tarefa de educar, competência que mingua a muitos paizinhos, sempre prontos a exigir dos docentes o suprimento do que a eles lhes falha.




sexta-feira, outubro 18, 2019

Mars is Flat


Conversas com os Putos e com os Professores Deles

Ser professor em Portugal é mais ou menos como ser árbitro de futebol.
Um tipo anda por ali a tentar controlar vinte e tal pirralhos injustiçados enquanto é mimado por todos os lados com uma variedade de insultos que se vão ramificando pela sua árvore genealógica acima, sem ter o direito de poder passar-se da cabeça, bater em alguém ou sequer responder ao mesmo nível.
Quer-se dizer... pode responder ao mesmo nível.  E até bater em alguém. Pode...
Só que depois é brindado com um processo disciplinar assinado por alguma indignada sumidade da Educação que provavelmente passa os Domingos, rodeada de gente pouco escolarizada ou bem instalado no camarote de algum criminoso, num estádio a insultar árbitros.
   
Neste terceiro livro da série Conversas com os Putos temos acesso a algumas coisas que o stôres dizem fora das aulas.
Há de tudo. Desde burros ignorantes com as palas bem fechadas para se protegerem daquilo que não compreendem, a profissionais competentes já meio avariados da psique.
Não é à primeira vista que se distinguem uns dos outros.
O resultado do seu trabalho só é perceptível anos mais tarde. Está bem à vista na programação televisiva, nos resultados das eleições e no número de licenciados que emigram.


Autor: Álvaro
Ano: 2019
Editor: Insónia
Preto e branco. 17 x 24 cm. 80 páginas Brochado.
Preço: 11 euros

Encomendas: insonia.edicoes@gmail.com